quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Vivências que não esqueço !

 
 
Tinha 5 anos, era morena, olhos castanhos , cabelos escuros... dormia profundamente quando de repente começou a ouvir ao longe as vozes dos seus pais a discutirem, acordou estremunhada e assustada. Já estava habituada àquelas discussões, mas ficava sempre aflita, o pai iria bater na mãe?  Olhou para o outro lado do quarto onde o seu irmão pequenino dormia sossegado...

As vozes iam aumentado de volume, a raiva estava patente nesses sons, o dinheiro era o tema que mais provocava discussões, embora muitos outros temas servissem de pretexto... às tantas. o pai (culpado na maior parte das vezes) ameaça a mãe num  tom austero e violento - Não aguento mais, não há dinheiro, que posso fazer? -  a menina apercebendo-se que ele vestia o casaco para sair... com o coração a bater rapidamente, levanta-se da cama , calça os chinelinhos e veste o robe macio em tons de verde e azul, que a mãe tinha feito para ela  e que tinha um toque confortável... agarra o mealheiro de lata com a imagem de Virgem Maria e do Menino, onde tilintavam as moedinhas...

Abre a porta do quarto e correndo pelo comprido corredor , precipita-se para a porta que ouvira fechar-se  e começa a gritar :- Paizinho, Paizinho !! -  aflita abre a porta da rua, desce as escadas com seus passinhos pequenos e apressados... o pai tinha parado na escada, ela sufocante , com as lágrimas a rolar-lhe pelas faces diz:- Paizinho não te vás embora eu dou-te o meu dinheiro todo, mas não te vás embora  !

O pai, parado, perplexo, agarrou na menina ao colo,  ela , com os seus bracinhos rodeou-lhe o pescoço e apertou-o com toda a força que tinha. No topo das escadas estava a mãe, que observava aquela cena ,  silenciosa, chorosa e sofrida. Chegados ao pé dela o pai coloca a menina no chão limpando-lhe os olhos e sorri. Levanta os olhos, sorri para a mãe, e erguendo-se beija-a, a menina está feliz , sabe que outras discussões virão mas aquela estava resolvida. Ao olhar para a porta que dava acesso ao corredor vê o seu mano a esfregar os olhos estremunhado que corre para ela , abraça-a e agarrando-se ao seu robe como fazia sempre que havia estas discussões, habitualmente, agarrava-se à roupa da mana e ficava no silêncio ou chorava de acordo com a reação da sua irmã.

A noite passou-se calma, mas a menina ia crescendo e era com esta  e outras experiências que a sua personalidade ia ganhando forma. Os pais demasiadamente envolvidos nos seus problemas, mal se apercebiam disso!