Lembro-me dos encarregados de educação serem obrigados a comprar os fatos da Mocidade Portuguesa que tínhamos que usar à 4ª feira – camisa verde, saia castanha , boina castanha e meias -… Usei-o 4 ou 5 vezes, sentia-me ridícula…
Lembro-me de trabalhar no Chiado e ao chegar ao Rossio, deparar-me com um“ajuntamento”, numa qualquer greve dos bancários, dos estudantes, ou de outra qualquer área e ver a Policia politica investir sobre quem quer que fosse, velhos, jovens, mulheres, grávidas, sem dó nem piedade, agredindo-os.
Lembro-me de descer o metro em correria desenfreada, (eu e muitos outros) para fugirmos àqueles, que como loucos, investiam sobre qualquer cidadão que lhes aparece-se à frente. Lembro-me de entrarmos no metro e de prontamente as portas serem fechadas pelo Maquinista, para que os policias não pudessem entrar, e, de através da janela poder ver, aqueles que apanhados de surpresa levavam bastonadas desenfriadas. Chegavam a ser 3 e 4 homens a bater num jovem, num velho ou numa mulher...
Lembro-me dos homens de fato, expressões frias, enraivecidos, cobardes…
Lembro-me dos tanques que vinham por detrás do teatro D. Maria e que com tinta ou água apontavam ás pessoas…. Daqueles homens que de bastão na mão, viseiras e capacetes, saiam loucos, ávidos de violência, enraivecidos defendendo o que nem eles sabiam ser, apenas tinham que agredir tudo e todos, pois segundo lhes diziam, eram pessoas que punham em causa o estado…que tinham de ser travados fosse de que forma fosse!!!
Lembro-me duma Livraria/discoteca que existia em Almada de seu nome ALMADANADA, cujo dono tinha umas ideias, um pouco mais á frente, que eu não entendia mas que me agradavam, e que me vendia à sucapa LP’s do Zé Mário Branco, do Zeca Afonso do Sérgio Godinho, os quais levava "religiosamente" escondidos como se estivesse a cometer o pior crime de todos.
Lembro-me de festas em casa de amigos a ouvir os Pink Floyd, os Deep Purple, divertidos, jovens, e de termos que fugir a correr porque nos avisavam que "a policia vinha aí…"
Mais que três pessoas juntas era um acto de subversão...
Lembro-me de tudo isto e de muito mais…
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Naquele dia de Abril, fui acordada bruscamente pela minha avó, que me disse:
– Teresinha, não podes ir trabalhar há militares na Baixa, parece que houve um golpe de estado! –
Sem dar por isso, ja lá estava, o meu emprego era ao pé do Largo do Chiado, mesmo no coração da revolução, estava curiosa, nada sabia, mas queria saber, muitas outras pessoas , como eu não mediam o perigo tal era a nossa ingenuidade, apenas queriamos testemunhar aquele acontecimento !!
Todos sorriamos, muitos grupos juntavam-se a opinar, cada soldado que passava faziamos o sinal de Vitória.... foi lindo, a união entre as pessoas, os sorrisos que se trocavam, aquele primeiro contacto com a palavra LIBERDADE da qual até então desconhecíamos o significado.. Sentíamos um misto de medo e prazer...
Eu tinha 20 anos, e sinto-me muito honrada por ter vivido tal momento da história em que juntos
disponíveis, solidários, e finalmente livres comemorávamos o que diziam ser o início da Democracia.
Soube que homens abdicaram das suas vidas, das suas famílias para lutar por este momento, foram torturados, mortos.... Homens do Povo, intelectuais, advogados....
Soube isto e muito mais, exploração, corrupção, África, abuso do poder...
Houve um 1º de Maio único.... Cravos vermelhos, sorrisos, abraços, lágrimas
Daí para cá apenas vazio!
Democracia? Solidariedade? Unidade?
Houve evolução claro!!! Mal seria se não tivesse havido, mas tornámo-nos cinzentos, manipuláveis, hipócritas e passivos.
Crueis, muitas vezes uns para os outros mas escravos e cúmplices dos que nos exploram....
Não nos humanizámos, não nos educámos, não crescemos, vivemos uma Democracia sem sentido!
Foi com uma grande emoção e esperança que vivi aqueles dias e os que se seguiram, hoje desiludida
continuo com esperança, mas tornei-me critica feroz de certos comportamentos, não compreendendo certas formas de estar , faltas de respeito, mentiras descaradas, aproveitamentos...
A palavra liberdade que deveria ser um hino , uma meta para todos nós, vulgarizou-se e muitas vezes é confundida com a palavra libertinagem!
Tenho esperança nos jovens mas sei, que vão ter que entender, ser convictos e activos e lutar com coragem serem excelentes, orgulhosos, honestos, para construírem um País defirente, renovarem a esperança
dum futuro melhor, em que o 25 de Abril volte a ganhar o seu verdadeiro significado.
Hoje sou apartidária, voto com coerência e de acordo com o que penso ser melhor para todos nós!!
Foi a lição que aprendi nesta guerra de interesses!!
2 comentários:
Já sei, já sei que tu és quem está na frente do sinal de trânsito de braço esticado: vitória, vitória, certo?
Minha amiga, não vivi essa data de perto, tinha apenas 5 aninhos, mas lembro-me bem de estar sentada no degrau da porta a ouvir "A Tourada" em altos berros no rádio e as pessoas estavam contentes. Uma alegria misturada com medo, mas definitivamente felizes! Algo de bom tinha acontecido!
Cantarolei também A Tourada nesse dia, e hoje só digo:
25 de Abril SEMPRE!!!!
se a nossa vida, o nosso regime é bom e perfeito? Claro que não!!!
Mas só (??????) pela liberdade de expressão, minha amiga...25 Abril SEMPRE e FASCISMO NUNCA MAIS!
Um grande beijinho
AP
Gostei muito das tuas palavras,( como aliás é costume ;0)
Mas seria bom que fôssemos mais participativos , que a liberdade não fosse só uma ilusão, podemos dizer o que queremos, com respeito pelos outros e... ponto!!
Estamos a pagar um preço muito alto por uma liberdade que implica justiça que tarda em chegar
Bjos grandes
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